Discurso Helvécio Sanford – Centenário (1889 – 1989)

Centenário da chegada , ao Brasil , de Mr.

John Roshore Sanford

​

      Exatamente na tarde de 26 de setembro de 1889 , desembarcava no Recife, Pernambuco , do Vapor “Aliance”, um jovem norte-americano , de Nova York , cheio de esperanças sem saber , naquele longínquo dia , que aqui iria ter sua segunda Pátria e que a semente que ele plantaria mais tarde , já em Sobral , iria frutificar tanto.

      JOHN ROSHORE SANFORD era seu nome.Fundador de uma família que hoje se ramifica por vários Estados deste imenso Brasil e também pelos Estados Unidos da América como se ele estivesse devolvendo à Pátria que o viu nascer o filho que de lá saiu.

      Em Recife , Mr. Sanford tinha uma missão:Gerenciar importante empresa americana que ali se instalara com o objetivo de exportar peles de bovinos , caprinos e ovinos.

      Seu pai , CARL SANFORD , possuía frigorífico em Nova York , no Brooklin , daí a ligação com a firma que lhe contratara.

      Corria o ano de 1889 e nosso Império agonizava.Tal era o movimento Republicano que ele afirmava ter sido a expressão “VIVA O REPUBLICA” a primeira a ser por ele pronunciada em português.

      Com escritório montado e tendo como auxiliar principal o hoje célebre DELMIRO GOUVEIA , de quem se tornara grande amigo , os negócios começaram a fluir normalmente até que , em 1892 , a empresa , por sua Matriz , determina sua expansão para outros Estados do Nordeste.

      Sabedor de que o norte do Ceará produzia peles de excelente qualidade , Mr. Sanford desloca-se para Sobral, através do Porto de Camocim , como que em busca do destino que lhe havia sido traçado.

      Na viagem de trem que empreendeu entre Camocim e Sobral , conheceu ele a figura notável do Cel. Ernesto Deocleciano de Albuquerque do alto mundo empresarial da região e pai de duas personalidades que se tornariam, mais adiante , dois dos seus melhores amigos : Vicente e José Saboya de Albuquerque.

      Em Sobral , a par de suas atividades comerciais , Mr.Sanford , alegre e comunicativo , logo se fez conhecido da sociedade local que lhe deu de presente a menina moça Minerva de Almeida Monte , filha do Cel. Francisco de Almeida Monte e que iria ser , a partir daquela data , a razão maior da existência do jovem americano.

      Com o noivado , Mr.Sanford decide-se por ficar em Sobral e passa , para Delmiro Gouveia , a gerencia da empresa , em Recife , e dela se desliga para cumprir o seu desiderato.

      A 18 de Novembro de 1893 casa-se com a eleita e com ela convive 65 anos de paz e harmonia.

      A partir deste marco , Mr. Sanford dedica-se à agricultura , baseado , segundo ele , no seu outro grande amor , o velho e querido Sítio Monte pertencente ao seu sogro e amigo , o Cel. Almeida , ainda hoje em poder da família.

      Imbuído do propósito de modernizar a sistemática agrícola do sítio , produtor que era e ainda é de café , cana de açúcar e frutas das mais diversas , Mr. Sanford vai aos EE UU em visita a família e de lá transporta , para a Meruoca , Serra onde se localiza o Sítio Monte , uma Usina de fabricação de açúcar turbinado , motorizada , fato que o transforma em pioneiro na citada atividade.

      Em razão da ausência de estradas , o transporte destas peças e máquinas , algumas pesando toneladas , foi uma verdadeira epopeia muito bem descrita no livro “ A FAMÍLIA SANFORD NO CEARÁ” de autoria de um dos seus filhos , o Dr. Paulo de Almeida Sanford.

      Com a instalação e funcionamento da USINA , surge uma nova feição na economia da região serrana e todo o plantio de cana passa a ser feito em função da Industria do Seu Sanford , no Sítio Monte que absorve 80% da produção de toda a Serra.

      O açúcar produzido era muito bem aceito no mercado e , assim pôde , o Seu Sanford , em pouco tempo , incrementar o plantio de café , da mandioca e , sobretudo , oferecer mão de obra a uma população altamente carente.

      O movimento do sitio era intenso , e a fábrica tornou-se um atrativo para quem subia a serra em busca do clima ameno que ela oferece.

      Todos queriam conhecer o empreendimento do americano e ele estava sempre presente a frente dos negócios , sendo o primeiro a chegar e o ultimo a sair ajudado , nesta faina, por sua dedicada esposa , D.Minerva, que a tudo assistia enquanto cuidava da educação da família que ia se tornando numerosa.

      O mais marcante na personalidade de nosso ancestral maior , foi sua obstinação no sentido de ficar e fincar numa terra estranha e distante da sua , uma família que dele partisse e nele podesse se espelhar , como hoje se espelha , no seu comportamento digno e caráter sem jaça.

      Sua Industria se desenvolveu até 1937 quando , por imposições do recém criado Instituto do Açúcar e do Álcool , passou a sofrer limitações de cotas de produção cada vez menores , acabando por tornar economicamente inviável a continuidade do empreendimento , levando Mr. Sanford a dedicar-se tão somente às atividades do sítio , desfazendo-se das maquinarias que , durante 4 décadas , marcaram a presença da 1ª agro-industria no topo da Meruoca.

      Além de sua atividade no Sítio Monte , Mr. John Sanford , habilidoso e prático , muito colaborou na construção das estradas que ligam Meruoca a Sobral e Massapê e foi dele o primeiro caminhão a subir a Serra , dirigido pelo motorista conhecido por Divino.

      Hoje , em Sobral , a principal via de acesso a Meruoca, denomina-se Avenida JOHN SANFORD , homenagem que o povo sobralense presta à memória deste americano que aqui se radicou , colaborando , com honradez e dinamismo para o desenvolvimento econômico e social da terra que o acolheu.

      Sua vida foi longa e profícua , e sempre que podia , ao lado de sua companheira e amiga , D. Minerva , reunia toda a família no Casarão de Sobral. Assim foi nas bodas de ouro. Assim foi nas bodas de brilhante. E assim era nos dias 12 de março e 29 de agosto datas dos aniversários dele e dela.

      Um dia , indagado por um dos seus netos a respeito das razões que o levaram a trocar Nova York por Sobral , ele respondeu , guardando o sotaque : “ A CULPADA NÃO FOI EU , BICHINHA , FOI ELE” apontando para D.Minerva que se encontrava próxima.

      Neste 26 de Setembro , CEM ANOS PASSADOS,seus descendentes , número superior a 200(DUZENTOS) , orgulhosamente festejam o centenário de sua chegada ao Brasil e o palco dos acontecimentos não poderia ser outro , se não o decantado e querido Sítio Monte , em cuja CASA GRANDE , será afixada Placa  de Bronze Comemorativa com a seguinte inscrição :

“ A JOHN ROSHORE SANFORD , NO CENTENÁRIO DE SUA CHEGADA AO BRASIL , A HOMENAGEM DOS SEUS DESCENDENTES”.

 

26/09/1989

Helvécio de Paula Pessoa Sanford